quinta-feira, 5 de março de 2015

Setor social Relação com Estado deve ser independente de mudanças de Governo

Setor social Relação com Estado deve ser independente de mudanças de Governo

O setor social quer uma relação de confiança e seriedade com o Estado para que os compromissos assumidos não fiquem à mercê de mudanças de Governo ou de ministros, questão em debate no primeiro Encontro Nacional de Instituições de Solidariedade.
POLÍTICA
Relação com Estado deve ser independente de mudanças de Governo
Lusa
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Em declarações à Lusa, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) explicou que o encontro nasceu da análise feita à evolução do setor social nos últimos anos e dos riscos que o chamado terceiro setor corre sempre que há uma mudança de Governo ou tão-somente de responsável por uma determinada pasta.
"Temos que ter nas nossas relações, com o poder político e com o Estado, em nome dos portugueses, uma seriedade da parte do Estado e uma confiança com o Estado", apontou Manuel Lemos.
De acordo com o responsável, as mudanças de Governo ou de ministro têm afetado "de uma maneira brutal" o setor social, de uma forma que muitas vezes "põe em risco muitos postos de trabalho".
Exemplo disso, apontou o presidente da UMP, são as unidades de cuidados continuados, lembrando que, entre 2002 e 2005, o então Governo social-democrata promovia reuniões com as Misericórdias e as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) para estas "se lançarem na construção de unidades" com vista a constituir a Rede de Cuidados Continuados de Saúde.
A filosofia de investimento mantém-se durante o Governo de José Sócrates, que "fez uma pressão enorme" para que fossem construídas novas unidades, mas que no decorrer do processo "alteraram tudo e fizeram exigências incríveis".
Esta política foi alterada com o atual Governo e, segundo Manuel Lemos, quem já tinha começado a fazer obras acabou por perder o investimento feito, apesar de ter contrato assinado com o Estado.
"Qualquer empresa teria posto uma ação contra o Estado", apontou Manuel Lemos, acrescentando que continua a haver unidades por abrir.
Para o responsável, não se trata apenas de uma questão orçamental, já que as comparticipações do Estado não são atualizadas há cinco anos e em 2014 o Estado gastou "300 milhões de euros nos hospitais EPE [Entidades Públicas Empresariais] para os equilibrar", mas "não houve 3 milhões para subir um por cento a rede de cuidados continuados".
"Quando o Estado constitucionalmente opta por nos pedir para nós fazermos uma coisa por ele ou em complementaridade com ele temos que ser sérios (...) sob pena de estarmos a criar gravíssimos problemas às instituições ao ponto de algumas poderem vir a desaparecer", alertou.
Manuel Lemos lembrou também que as Misericórdias são muitas vezes "o primeiro, segundo ou terceiro empregador local, nomeadamente nos concelhos médios e pequenos do país", o que faz com que qualquer alteração possa "atingir violentamente o emprego e o tecido social em Portugal".
O segundo dia do encontro vai ficar marcado pelas intervenções dos representantes do PSD, PS, CDS-PP e Bloco de Esquerda, que vão ser depois desafiados a assinar um pacto de confiança.
"Trata-se de uma declaração de princípios que assenta na seriedade e na confiança", disse Manuel Lemos, justificando a presença dos partidos com o facto de serem eles a "gerir os destinos do Estado, quer os que tenham sido Governo ou não".

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